Antes mesmo de começar a estagiar, tinha algo que me amedrontava, lia e re-lia textos e artigos que abordava o tema, mas mesmo assim eu pensava "e se não for possível?". Eu sabia que de alguma forma comigo a experiência seria diferente e que eu não saberia o que fazer com ele...
O silêncio, sim era ele, o meu maior vilão, eu acho que o não saber me gerava este medo. Medo tamanha que até em silêncio eu ficava para que ninguém desconfiasse. Eu sabia que em determinados momentos ele seria necessário, mas... até que ponto? Quando o silêncio sairá de cena? Eram estas as questões que me indagavam enquanto estagiário de primeira viajem. Então lá fui eu a minha primeira consulta, com a possível chance de encarar este vilão. Tudo corria bem, ao meu ver, até que no segundo encontro, sem me preocupar, ele aparece... rapidamente ele saiu de cena, para o meu alivio e segui o atendimento. Tudo parecia fluir só que.. sim, ele voltou e voltou de um jeito que me fez esquecer todas as cartas que eu tinha nas mangas, tomando conta daquela pequena sala, me fez sentir um aluno do primeiro período, foi então que depois de alguns minutos, a paciente nos tirou daquele abismo silencioso, dai eu pude perceber que ele fazia parte do modo dela de estar naquele espaço, e não haveria modo de vence-lo, mas de compreende-lo e aceita-lo.
Assim como neste caso, o silêncio pode ser uma forma de resposta não verbal, embora tal fato seja frequentemente considerado sem importância, no entanto pode significar muito. O silêncio pode ter diversos significado. Através dele, terapeuta e paciente podem estar se aproximando mais um do outro, partilhando alguma coisa; ou o silêncio pode mostra-lhes como realmente é profundo o abismo que os separa. O silêncio pode dar mais enfase a um desentendimento. Pode ser neutro, ou conter muita empatia.
Como uma resposta deliberada, o silêncio implica que o entrevistador decidiu não dizer nada, considerando isso como a coisa mais útil que pode oferecer no momento. Decidiu não interferir verbalmente, mas está dentro do processo, e sua presença é sentida pelo paciente. É como se o terapeuta estivesse dizendo: "Você sabe que estou escutando. Creio que a melhor maneira pela qual posso ser útil a você agora é me mantendo em silêncio".
Mesmo achando que eu deveria lidar de alguma forma com aquele silêncio, acabei tendo a melhor atitude para aquele momento... aceita-lo. Depois desta experiência o silêncio voltou aparecer em outros casos.. mas não me causado medo como antes.
Texto de apoio: Entrevista de Ajuda de A. Bejamin (2008)
Nenhum comentário:
Postar um comentário