segunda-feira, 23 de março de 2015

Se um dia eu surtar...


Se um dia eu surtar quero que seja diferente,
quem sabe agir como uma criança que acredita na fada dos dentes.
Poder dar de ombros quando alguém vier brigar comigo.

Se um dia eu surtar quero ser criativo,
viver de devaneios construtivos.
Inventando coisas além de um simples delírio.

Se um dia eu surtar quero ser crente,
ter como base de minha conduta a fé num Deus soberano.
 Contudo, não radicalizando a minha loucura.

Se um dia eu surtar quero ser engraçado,
causar graça e ao mesmo tempo poder rir de minhas bromas.
Mas uma coisa eu prometo, não irei fazer piada sobre loucos.

Se um dia eu surtar quero ser resiliente,
Compor até rimas com os tormentos da minha mente.
Aproveitar o lado sensato de ser um insano.

Se um dia eu surtar quero poder trabalhar,
encarar as doideiras de outros loucos.
Que eu seja digno de ser um ótimo profissional.

Se um dia eu surtar espero que seja de modo parcial,
para poder desfrutar os dois lados das realidades.
Conhecer diferentes modos de ser.

Antes de tudo isso, eu peço...
Se um dia eu surtar, torço que seja por amor.
Mesmo surtado desejo que este amor seja compreensível,
a mim e para as pessoas quais eu amo.


Edmilson de C. da Silva

quarta-feira, 4 de março de 2015

Medo do silêncio

Antes mesmo de começar a estagiar, tinha algo que me amedrontava, lia e re-lia textos e artigos que abordava o tema, mas mesmo assim eu pensava "e se não for possível?". Eu sabia que de alguma forma comigo a experiência seria diferente e que eu não saberia o que fazer com ele...

O silêncio, sim era ele, o meu maior vilão, eu acho que o não saber me gerava este medo. Medo tamanha que até em silêncio eu ficava para que ninguém desconfiasse. Eu sabia que em determinados momentos ele seria necessário, mas... até que ponto? Quando o silêncio sairá de cena? Eram estas as questões que me  indagavam enquanto estagiário de primeira viajem. Então lá fui eu a minha primeira consulta, com a possível chance de encarar este vilão. Tudo corria bem, ao meu ver, até que no segundo encontro, sem me preocupar, ele aparece... rapidamente ele saiu de cena, para o meu alivio e segui o atendimento. Tudo parecia fluir só que.. sim, ele voltou e voltou de um jeito que me fez esquecer todas as cartas que eu tinha nas mangas, tomando conta daquela pequena sala, me fez sentir um aluno do primeiro período, foi então que depois de alguns minutos, a paciente nos tirou daquele abismo silencioso, dai eu pude perceber que ele fazia parte do modo dela de estar naquele espaço, e não haveria modo de vence-lo, mas de compreende-lo e aceita-lo.

Assim como neste caso, o silêncio pode ser uma forma de resposta não verbal, embora tal fato seja frequentemente considerado sem importância, no entanto pode significar muito. O silêncio pode ter diversos significado. Através dele, terapeuta e paciente podem estar se aproximando mais um do outro, partilhando alguma coisa; ou o silêncio pode mostra-lhes como realmente é profundo o abismo que os separa. O silêncio pode dar mais enfase a um desentendimento. Pode ser neutro, ou conter muita empatia. 
Como uma resposta deliberada, o silêncio implica que o entrevistador decidiu não dizer nada, considerando isso como a coisa mais útil que pode oferecer no momento. Decidiu não interferir verbalmente, mas está dentro do processo, e sua presença é sentida pelo paciente. É como se o terapeuta estivesse dizendo: "Você sabe que estou escutando. Creio que a melhor maneira pela qual posso ser útil a você agora é me mantendo em silêncio".
Mesmo achando que eu deveria lidar de alguma forma com aquele silêncio, acabei tendo a melhor atitude para aquele momento... aceita-lo. Depois desta experiência o silêncio voltou aparecer em outros casos.. mas não me causado medo como antes.

Texto de apoio: Entrevista de Ajuda de  A. Bejamin (2008)